2010 - Easy-digest e limpinho. Livro para desfrutarmos das reflexões básicas mas não menos profundas que atravessam Murakami enquanto corre, ou depois disso. Engraçado que ele olha para o exercício físico e o trabalho do corpo como essencial para escrever melhor e combater ou compensar o caos e processso destrutivo essencial à arte da escrita.
Reli em Agosto de 2013 quando começei a correr mais regularmente.
Textos soltos e genuínos sobre como é viver a correr e a escrever. A dança constante entre corpo e mente, e o prazer das longas distâncias. Tão efémeras como dolorosas e irresistíveis.
Pedaços:
Somerset Maughan escreveu uma vez que até no gesto de fazer a barba existe algo de filosófico. Por mais anódina que uma operação possar ser, pelo simples facto de se repetir todos os dias, vezes sem conta, produz uma espécie de beleza contemplativa.
Considero-me uma pessoa lenta e meticulosa, e , na medida em que sinto dificuldade em aprender seja o que for sem antes traduzir por escrito os meus pensamentos, vi-me obrigado a passar ao papel.
A dôr é inevitável mas o sofrimento é uma opção.
Corro, só isso. Corro no vazio. Dito de outro modo: corro para atingir o vazio. No entanto, há sempre um pensamento ou outro que acaba por se introduzir nesse vazio. O espírito humano não pode ser um vazio completo. As emoções dos homens não se revelam suficientemente fortes ou consistentes, ao ponto de albergarem o vazio. Quero com isto dizer que os pensamentos e ideias que invadem o meu espírito enquanto corro permanecem subordinados a esse espaço oco.
Não existe no mundo real nada que se posssa comparar em beleza às ilusões de um homem em risco de perder a razão.
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