18/11/2017

Pechisbeque

p.323 "O pechisbeque é outra dimensão muito típica da da cultura material dos burgueses. A palavra vem de um operário inglês, Pinchbeck, que descobriu a forma de, misturando cobre e zinco, obter uma liga que tinha uma cor parecida com o ouro. A função dos pechisbeque foi exactamente essa: parecer o que não era, permitir à mediania imitar a opulência. Teve uma carreira fulgurante: dos botões das librés e das lanternas das caleches passou ao interior da casa, enchendo-a de ferragens brilhantes, molduras, apliques, e acabou em pulseiras cravejadas de pedras falsas. Além do pechisbeque metal, houve muitos outros: as paredes de mármore fingido, a escultura de gesso, a seda de papel que forrava as salas, os tapetes persa fingidos. A casa do burguês recordava a antiga casa do nobre. Para o fim do século (XIX), os grandes burgueses sentiram mesmo necessidade  de se distinguir dos pequenos e começaram a desencantar pelos sótãos da província e nos pardieiros que tinham comprado quando da venda dos bens da Igreja, velhos armários que falavam de um passado ilustre, e mesmo telas com retratos desconhecidos que adoptavam como antepassados. E eram-nos, se não deles, pelo menos da sociedade que iam reconstituindo."

"História Concisa de Portugal" José Hermano Saraiva

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