George Orwell, 1987, Abril 2012 Antígona, com direitos para Portugal desde 2007
Winston Smith. Na sua viagem condenada, ocasionalmente, acreditamos que a prometida semente da revolução de luz vai explodir, resolver. Mas a agonia é, simplesmente, crescente no suspense, no corpo e na mente. Neste último e eterno aviso de Orwell o totalitarismo quebra Winston, já quebrado desde o início.
p.6 O instrumento podia ser regulado, mas não havia meio de o desligar por completo
p.7 Havia que viver - e vivia-se, graças a um hábito que se fazia instinto - no pressuposto que cada som transmitido estaria a ser escutado e salvo na escuridão, cada movimento vigiado.
p.8 guerra é paz, liberdade é escravidão, ignorância é força
p. 30 Nada nos pertencia, excepto os poucos centímetros cúbicos no interior o nosso crâneo
p.38 Tal era a suprema subtileza: induzir conscientemente a inconsciência, para depois, num segundo passo, tornar-se inconsciente do acto de hipnose, acabado de levar a cabo.
p.54 Estamos destruir palavras, dezenas, centenas de palavras por dia. Estamos a reduzir a língua ao seu esqueleto. A décima primeira edição não há-de conter uma única palavra susceptível de se tornar obsoleta antes do ano 2050.
p.55 Coisa magnífica, a destruição de palavras. Claro que a grande quebra é nos verbos e nos adjectivos. E não só os sinónimos; há também os antónimos. Afinal de contas, no teu íntimo, preferias que se conservasse a velhilíngua, com toda a sua imprecisão e os seus inúteis matizes de sentido.
p. 167 Não lhe parecia, pelas recordações, que tivesse sido uma mulher excepcional, e menos ainda uma mulher inteligente; no entanto, possuíra uma certa nobreza, certa pureza, simplesmente porque a conduta por que se regia era apenas de carácter pessoal.
p.187 Winston afundou-se na poltrona e pôs os pés sobre a guarda da lareira. Era a felicidade absoluta, era a eternidade.
p. 269 Haverá sempre a embriaguez do poder, cada vez mais intensa, cada vez mais subtil. Sempre, a todo o momento, a emoção da vitória, a sensação de esmagar um inimigo indefeso. Se queres uma imagem do futuro, pensa numa bota a pisar um rosto humano.
p 327 Bernard Crick Sistemas autoritários de governação são maus mas a maior ameaça é o totalitarismo. O primeiro limita o nosso humanismo, mas o segundo destrói-o. Se o totalitarismo se tornasse a nossa vida de todos os dias, os nossos outros valores humanos, a liberdade, a fraternidade, a justiça social, o amor da literatura, o apreço pelo diálogo franco e a escrita clara, a fé na honestidade natural e na correcção natural das pessoas comuns, o amor pela natureza, o prazer de constatara diversidade dos homens, o patriotismo, que em Orwell significava simplesmente o amor à sua terra, que opunha ao nacionalismo, tudo isso desapareceria.
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