1964, Fernando Lopes
Cru e surpreendente, o Belarmino tem toda a vida do mundo nele e toda a mágoa também. Um fanfarrão vadio, pobre e todo-poderoso. Um Mayweather português, mas com muito mais nível. Pobre, engatatão e obstinado.
- Estive dois meses no Porto. Fiz cinco combates dos quais só recebi um par de sapatos já em segunda mão. Uma gabardine custou-me 900 escudos. E deu-me no dia de Natal 150 escudos para ir passar o Natal com a minha família.
- Sei que queres ir trabalhar para o estrangeiro, mas tu és um homem de Lisboa, não vais sentir saudade da cidade?
- Sim, muitas (...).
- Então porque vai trabalhar para o estrangeiro?
- Porque boxing em Portugal não há, e eu vou para o estrangeiro apenas para ser treinador ou jogar boxe. Só vou para dar porrada, porque levar já não posso. Já não tenho idade, tenho 32 anos.
- Não há engenheiros e arquitectos que vão para o desporto e levam porrada na cabeça por gosto. São homens como eu, vadios.
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