31/12/2008



A minha primeira semana de Janeiro.

29/12/2008

Em casa o pouco tempo passa rapido. Enquanto espero malas que nao chegam, a barba cresce, o corpo adapta-se ao frio e a memoria tenta capturar e congelar cada momento para mais tarde. Os minutos que passam vao lentamente apertando de forma doce e bonita o interior com saudades.

21/12/2008

É Sexta-Feira em Abidjan. As pessoas atravessam lentamente o ar húmido e pesado em frente da recepcao. Ao fundo, ouvem-se os estremidos fracos mas longos de uma máquina laser de taloes já antiga a imprimir linha a linha a conta do café, do sumo ou da cerveja. Sao 20.10 da noite no bar/entrada principal do Hotel Ivoire. O estranho e histórico hotel. E ainda cedo para licores e uisques com sabor a negocios ou poder. O calor engana-me, os pinheiros de plastico e as luzes coloridas enganam-me no espectaculo kitsh e deslocado que apresentam. O piscar nervosamente rápido das luzes verdes e vermelhas nao significa qualquer noite de deep trance ou techno.


É sexta feira em Abidjan e na proxima quinta-feira é Natal! A competicao entre o calor e a humidade deixam-me um pouco confuso mas nao tanto como nos primeiros dias. Ao inicio sentia-me como se me tivessem trancado á chave numa gigante sauna como aquela em que estive em Trondheim. Como se alguem tivesse violentado a sagrada tradicao gelada do meu Natal.


O que fica agora que parto é o turbilhao do emprego, um ritmo alucinante a que sinto que tenho sabido aprender a responder e a marca indelével das pessoas que tenho, apesar do ritmo frenético do “nao ter tempo para nada”, conseguido apreciar. Sao muitas as pessoas que vou guardar com marca forte na memória por todo o tipo de razoes… o Abdulaye (www.chauffeurabidjan.blogspot.com), a Rachelle, Hélder Freitas, Ahiman, Djedje, o senhor Toha, Dogo, Menudier, Martin, Olivier, Sacha, Franck, Josephine, Simone Gbagbo, Capucine, Ada, Stephane, Sangará, Kouassi e alguns mais…


O que fica sao as ilhas de paz dos poucos passados ao sol de Assinie e a unica e colorida danca dos edificios, automoveis e habitantes de Abidjan. Abidjan é dominada pela lagoa, pelo porto e pelo Plateu - a estranha Manhattan da Cote d’Ivoire.A geografia confusa da cidade que entra pelo lago e pelo Atlântico é a metafora perfeita para este pais a todas as suas dimensoes.


22/11/2008

Encontrei Bruxelas cinzenta, muito fria, húmida e maldisposta. O meu cantinho aqui é contudo um pequeno paraíso no meio de uma tempestade de neve. Faz-me lembrar o espaco e luz de uma certa "salle de jeux" em Geneve. Por aqui preparo a logística para a viagem de Segunda-Feira, beberico em leite achocolatado Belga e recupero do intenso trabalho de escritório da passada semana que me teimou em acordar todos os dias exactamente aos dois minutos para as oito.

17/11/2008

Madrid deixa-me cansado à noite, com dias a passar rápido. Deixa-me contudo também traços daquele Urso, a Caixa do Herzog, os mais avançados homens-estátua da Europa, um bocadinho de comida peruana e gente, muita gente ao fim de semana. Das coisas mais presentes nestes dias têm sido as filas intermináveis ao pé do Museo do Jamón com centenas de pessoas à espera para comprar um bilhete de lotaria para o "el gordo". Por mim eu já sei o que quero pelo Natal, e não é o el gordo...

10/11/2008

Parece que entre Setembro e o início de Novembro de 2008 passou uma década. Tal foi a intensidade, a variedade de actividades, o sem-conta de lugares visitados, apoderados, o número de pessoas novas, conhecidas e reconhecidas, acontecimentos inesperados, planos tracejados, esforços recompensados, desafios avaliados, ponderados e aceites.

Ao chegar a Genebra, os olhos ficam imediatamente hipnotizados pelo luxo, empolando-o fora de proporção. A ostentação existe mas qualquer flanêur que se preze deve ter cuidado. Genebra é uma cidade amaldiçoada pelo ouro e chocolate que a encobre e que nem sempre deixa ver muitas das outras coisas e histórias interessantes que tem. Lausana ri-se de Genebra, é mais relaxada, mais low-profile. Faz o seu desporto, vai às suas galerias de arte e vai dando as suas achegas sem o fogo de vista da sua vizinha. Preocupa-se com o seu bem-estar e acima de tudo com o seu coração histórico e moderno agora a ser renovado.

Depois veio a casa - "La maison de Cedres" à beira da zona com o melhor fim do dia do lago Léman - A maison de Cédres encerra pessoas especiais. Alberga pequenas famílias que vão interagindo volu- e involuntariamente. A casa diverte-se com pequenas experiências sociológicas com vista a demonstrar como ninguém é igual a nada nem a ninguém e muita gente muda muito á medida que muito se vive muito junto. Neste momento devo dizer sinceramente que adoro toda a gente no último andar à direita, do segundo edíficio do complexo da Cedres (do ponto de vista de quem está virado para o lago Léman).

Gentes diferentes e bichos protegidos numa pequena região urbana natural protegida para sapos e pequenos animais de zonas húmidas em volta das residências. No topo da segunda torre do complexo a máquina de cozinhar é o motor e alma da casa. Extremamente bem oleada, é dela que depende toda a vida dos habitantes. De manhã a torradeira dá sinal à chaleira eléctrica para se preparar para o "cháleite". Ao almoço uns douradinhos, peixes verdes do mar ou bifinhos de frango abraçados por cus cus vêm antes do café da máquina resmungona vermelha. Á tarde, logo que "já está na hora de comer" uns croque-messieurs, ou talvez, num dia especial, tomatinhos bebés almofadados por mozzarela calva com basílico e azeite abrem caminho para o coup de grace dos pratos da máquina de cozinhar- o gratinado.

Na Cedres, a meio da tarde lá se encontra tempo para se ir ganhar um joguito de 3x3 contra estranhos adversários rotativos no campo alto ou então vai-se às compras para carregar as baterias da máquina de comer. Talvez à noite se tracem umas linhas no autocad, escrevam uns mails, se preparem umas entrevistas, se estudem uns gráficos ou se leiam uns textos. Depois é hora do último leite com chocolate e de se combinar as horas nunca iguais dos despertadores.

Os fins de semana trazem muitas vezes expedições. A Genebra, a Berna, Basileia, Mendrizio, Bellinzona. Cada expedição é como uma pequena vida, com começo, meio e fim. Pontos de entusiasmo, novidade, concretização, segurança, realização, desilusão e por fim de regresso. Todas as expedições nos deram pelo menos um pequeno livro de 12 páginas para escrever embora nunca o tenhamos feito. Tanta coisa que devia ser escrita fica por escrever...

13/10/2008

Há 5 minutos atrás, o desfolhar de um dicionário de Francês-Português de 1985 levou a mim aquele aroma a páginas antigas. Instantaneamente me lembrei daqueles dias sem fim em que me deliciei com os livros velhinhos das Aventuras Fantásticas... Nunca fiz batota...nunca

12/10/2008



Bravo de Esmolfe

Um monumento merecido à melhor maçã do mundo, corrigo, o melhor fruto do mundo.

23/09/2008

Há muito que não escrevo neste espaço. Deixo umas caixinhas com alguma música que me tem entretido nos últimos tempos em Stellenbosch, Viseu, Porto, Lisboa e Lausanne só para aquecer até chegarem mais letras em breve.



























Kings of Leon - Sex on Fire

18/07/2008


Aprender a criar e re-criar.

07/05/2008


Hoje apreendi duas coisas. Apreendi, não aprendi, apreendi, Apreendi que tenho umas calças azuis iguais às do Charlie Chaplin e que moinhar é uma expressão antiga que significa chuva miudinha,chuva lenta e miudinha como a farinha que espirra das mós dos moinhos, E não é que veio a viagem toda a moinhar!

09/04/2008

Já há muitos anos que não vivia tanto tempo em Viseu. A cidade aparece nestes dias molhada, cinzenta mas, ainda assim, invariavelmente acolhedora e minha. São espaços familiares, orgânicos para mim ao extremo. Quando por aqui estou recebo implantes biónicos para os meus cinco sentidos. É como eu passasse a ver por intermédio do meu jardim, ouvir pelos saltos que dou entre as 4 pedras da Praça de Goa, a falar com o bater da porta ôca de madeira da cozinha, a cheirar graças ao mofo mais querido do meu sótão e a tactear o mundo pelas patas do Mateus. Sou este lugar e este lugar sou eu.

24/03/2008


A Polaroid morreu, a máquina produzia algo que tinha tanto de absoleto como futurista. Agora só os mais fortes sobrevivem...

23/03/2008

Preciso de dactilografar 100 páginas em 100 dias... Gostava de dactilografar 100 páginas em 100 dias. É assim pelo menos que organizo estas coisas nos meus pensamentos. Este desejo é talvez pouco mais que uma pretensão de organização, ainda assim é um pretensão importante, uma que cada vez mais sinto necessária. Os meus momentos pautados do Deus das pequenas coisas giram muito em torno desta ambição, por ela se medem. Todos precisamos de guias, para tudo, sejam estas mais ou menos abstractas, é sem dúvida a intensidade dos nossos objectivos que define a qualidade dos nossos gestos.

22/03/2008


Olha aqui um pássaro. Está aqui um pássaro agora... ai que disparate. Olha, acabaram-se as bolas. Ah! Vou no 6-7, e tu em qual vais? O que é que isto quer dizer : "new store item unlocked"? Então e agora, ok, pronto. Ai isto anuncia? Ah, já andei mais um andar. Gosto muito desta parte onde saltam os pauzitos todos. Falta muito à minha pirâmide...olha, olha, tanta estrelinha.

Luxor 3 - Jogar para perceber.

20/03/2008















Houve um por-do-sol vermelho e bonito na figueira este dia 20. Um passeio no passadiço de madeira foi obrigatório. No meio das conversas vim a saber que antes do Panteão estava no seu lugar a igreja de Santa Engrácia. Reza a história que problemas logísticos na construção e fragilidade estrutural submeteram a igreja a constante vandalismo e veio a dar origem à expressão "estas obras estão a demorar como as obras de Santa Engrácia". Que, tal como no Mosteiro dos Jerónimos, também há um jazigo do Luís Vaz nesse mesmo Panteão, apesar de vazio e que ao pé de Espinho cultivam cenouras, hortaliças e batatas na areia da praia, muito saborosas e famosas por sinal.

De todos os males e dedos a apontar às especulações do senhor Berardo, o valor da sua colecção de arte é inquestionável. A escolher, gamava-lhe o Lichtenstein e o Mondrian, sem dúvida. Vale a pena uma olhadela no CCB até ao final do ano, não pagas mais por isso.

07/01/2008



Olhando para trás apercebo-me que nutro um sentimento de amor/ódio pelos rebuçados peitorais do Dr. Bayard. Apesar da receita estar impressa nas “novas” embalagens ancestrais ainda são muitos os mitos e as lendas em relação aos seus ingredientes. A lendária combinação de alteia e mel é ainda às vezes confundida com anis e até com pasta de dentes do senhor castor. No fundo, e apesar da versão oficial da Fábrica de Rebuçados Baiar, ninguém sabe ao certo.
Esticar as orelhas àquele plástico branco sempre foi uma tradição da família Alvarenga. Curando a rouquidão, suavizando a dor de garganta, trazendo distracção a uma cartada que o primo está a jogar demasiado lentamente e, acima de tudo, eliminando a tosse como poucas mistelas de frasco conseguem. Existe todavia um lado lunar. Desde petiz que os ocasionais cortes transversais nas drageias Bayard me desfiam a língua aos bocados, um defeito de fabrico recorrente que já reclamou muitos órgãos do paladar. Por fim, cada vez que abro cada pacote de rebuçados Dr. Bayard anseio por um rebuçadinho que, por uma vez que seja, também tivesse as faces dos outros utilizadores das drageias dando a cara na frente da embalagem. Uma face que não seja o aborrecido indivíduo de meia idade com um cachecol e um penteado dos anos 40. Eu até gosto dos anos 40 mas acho que se devia dar uma oportunidade de brilhar ao senhor idoso careca e às meninas, todos eles também aflitos com tosse. Este protagonismo egocêntrico do indivíduo de meia idade é escusado e inexplicável. Vá lá, ponham a menina do laço e o velhinho Lex Luthor nem que seja em 10 dos 100 gramas de rebuçados de cada embalagem. Dr Bayard, imploro, devo-lhe tanto! Com um site destes, és capaz de tudo, que música....a sério, mesmo tocante e que história. Dr. Bayard para sempre!