29/09/2014

Yes

1995, Morphine, Mark Sandman

Suspiros saudosos e melancólicos de um saxofone à noite, à saída de um bar. Ou será talvez à entrada?
Uma das fotos no álbum é de uma asa de avião sobre um sol vermelho e nublado, em jeito de despedida deste mundo. Essa voz de Sandman assim se despediu, demasiado cedo. 'Gone for good': coisa mais triste; 'Honey White': coisa mais alegre.

28/09/2014

Arquitecturas Film Festival, 28 Setembro 2014

Sacred
Nuno Grande, 2014
Sublime banda sonora e steadicam desta curta-documentário.
Valioso arquivo do igreja do Sagrado coração de Jesus em Lisboa.

A Radiant Life
Meryil Hardt, 2013
Início satisfatório mas descamba para o desastre e aborrecimento. A Marselha de Le Corbusier, a apropriação e dificuldades dos habitantes da visão dele, mereciam mais.

The practice of architecture: visiting Peter Zumthor
Michael Blackwood, 2012
Um pouco feito às três pancadas, Kenneth Frampton abre a porta de casa do intenso e genial Zumthor, abrindo uma janela sobre a sua personalidade e método de trabalho. Os detalhes e preciosismos dos seus projectos mereciam imagens melhores e menos 3ds a retratar locais que já existem de pedra e cal.

Concerto Inaugural Temporada 2014 - 2015 Teatro Nacional de São Carlos

Maestrina Joana Carneiro, com violoncelista Johannes Moser
Orquestra Sinfónica Portuguesa
Coro do Teatro Nacional de São Carlos

20 Setembro de 2014

Poder absoluto. Arrepiante, intenso e inesquecível. ªUm corpo mágico de músicos para um espaço igualmente mágico, cheio de vida até ao mais alto camarote. A maestrina impõe respeito absoluto com a mais extrema das graciosidades. O violoncelista brilha tanto como os seus sapatos, sorri, mexe, sua, quase que grita. Danse générale de Maurice Ravel foi o clímax perfeito.

'Olá Mariana, estive a ler o 'booklet', e tal como eu te disse durante o concerto inaugural, o violoncelo de Johannes Moser era mesmo um Andrea Guarneri, de 1694'
'Deveras impressionada Daniel, não sei como o distinguiste àquela distância de um Giuseppe Giovanni Battista Guarneri'

Antonin Dvorak: Concerto para violoncelo e orquestra em si menor, op. 104 Allegro; Adagio ma non troppo; Finale

Luís de Freitas Branco: Antero de Quental Poema sinfónico para orquestra

Maurice Ravel: Daphnis et Chloé suite no. 2 para coro e orquestra: Lever du jour; Pantomine; Danse générale.

Alice

2005, Marco Martins, com Nuno Lopes
Edição especial - 2 discos, Lusomundo audiovisuais

A história é sobre Lisboa. Uma Lisboa que não é nova mas aparece pouco. É azul apagado, triste e solitário, na multidão. Um azul, mesmo assim estonteante, tal como o casaco de Alice.

Tal como a massa que entra e sai dos corações de Lisboa. Que se movimenta roboticamente, compassadamente, dia após dia. Cativante e dolorosamente apagada. Não tão diferente de Mário.

07/09/2014

Good Ol' Freda

Ryan White, 2013

Histório-documentário, simples e bem montada. Freda faz um excelente trabalho de jornalista, lembrando-se de pormenores incríveis. Uma contadora de histórias exímia, improvável testemunha da ascenção e queda da Beatlemania. Permite um olhar por dentro do círculo mais restrito dos Beatles, da sua logística, suas personalidades e também do papel fundamental dos 'managers', particularmente de Brian Epstein, e do antes e depois da sua morte.

Crónica de uma morte anunciada

Gabriel García Márquez 1981 (original)

Mais que contar uma história, Márquez conta um ambiente. A aldeia parece ser uma caricatura da nossa frequente hipocrisia colectiva, não sei se esta é uma interpretação válida. Sei que o brilho das facas de matar porcos assusta e que fiquei sem perceber quem desflorou indevidamente a noiva, causando a bagunça.

Romance de uma conspiração

João Paulo Guerra, 2010, Oficina do Livro

Ligeirinho mas informativo. Pedro Costa não conquista por exomplexo mas ganha a nossa simpatia como testemunha tímida mas corajosa do Verão quente e dos últimos anos da ditadura. A forma como tudo se une no final é improvável mas bom, é ficção. A Lisboa dele, a dos gatos, fica ao cima da minha rua.

A sombra do vento

Carlos Ruiz Zafón, Dom Quixote, 2004-2006

Brilhante desenvolvimento de personagens, especialmente de Julián Carax. As personagens e o mistério do puzzle vai sendo contado, desvendado do ponto de vista dos vários intervenientes num mistério passado e presente. Esta Barcelona mistura as distintas trevas de Fumero e Carax com a alegria e intensidade de Daniel e Fermín. Intrigante até ao fim.

96 "A televisão, amigo Daniel, é o Anticristo, e digo-lhe que bastarão três ou quatro gerações para que as pessoas não saibam nem dar peidos por sua conta e o ser humano regresse às cavernas, à barbárie medieval e a estados de imbecilidade que a lesma já ultrapassou lá para o pleistoceno. Este mundo não morrerá de uma bomba atómica, como dizem os jornais, morrerá de riso, de banalidade, fazendo uma piada de tudo, e aliás uma piada sem graça."

169 "O dinheiro é como qualquer outro vírus: uma vez podre a alma que o alberga, parte à procura de sangue fresco. Neste mundo, um apelido dura menos do que uma amêndoa coberta"

192 "Odestino costuma estar ao virar da esquina. Como se fosse um gatuno, uma rameira ou um vendedor de lotarias: as suas três encarnações mais batidas. Mas o que não faz é visitas ao domicílio. É preciso ir atrás dele."

221 "Às vezes Jacinta perguntava a si mesma se aquela paz sonolenta que devorava os seus dias, aquela noite da consciência, seria aquilo a que alguns chamavam felicidade.

05/09/2014

Cemitério de pianos

José Luís Peixoto, Bertrand 2006-2007

Todo o início começa num fim e nesta família Escher, que partilhei em cópia dupla na praia, um diagrama abre a porta ao circular da vida, seus constantes desgostos e raros momentos de paz de corridas e no meio do cemitério de pianos. Excelente inspiração em Francisco Lázaro.

283 "O tempo passava. E tinha a certeza de que uma parte de mim, como peças de pianos mortos, continuaria a funcionar dentro deles (...) éramos perpétuos uns nos outros."