22/07/2014

Drive

Nicolas Winding Refn, 2011, com Ryan Gosling

Nota artística 10. Pinturas em movimento de um fascinante submundo norte-americano. Não terei sido o único a desejar um casaco de escorpião igual ao de Ryan Gosling. Ele sem o casaco não seria tão carismático. Ele quer devolver $1.000.000 e é só chatices. Nunca tinha visto tal coisa.

O espião que saiu do frio

John Le Carré, 1963, 2009
Publicações Dom Quixote

Cria atmosferas como poucos vi fazer até agora. Sentimo-nos na pele de Leamas, a ser questionados, aterrados e intrigados pelas profundamente trabalhadas personalidades dos espiões e contra-espiões da República Democrática Alemã: Mundt e Fiedler. Aterramos em Tempelhof com Leamas, trabalhamos aborrecidos na biblioteca em Inglaterra, e enervamo-nos ao saber que temos 90 segundos para saltar o muro.

19/07/2014

Nos Alive 2014

Chet Faker
Rendido à voz, estilo, intensidade, ritmo e hispsterismo da barba e botão apertado no topo da camisa.
Talk is cheap, 1998 e No Diggity foram memoráveis. De longe o melhor concerto da noite, os Metronomy de 2014. Talvez seja o contraste da lentidão e calma das palavras com o acelerado da batida, uma combinação que, quantas mais vezes se ouve, mais faz sentido.

Jungle
Belo momento de dança, em particular com as electrizantes 'The heat' and 'Busy Earning'.
Ponham isto a tocar na discoteca por favor, que eu vou ali aprender a andar de patins para lhes fazer jus.

Unknown Mortal Orchestra
'So Good at being in trouble' estica-nos o cérebro e faz franzir a testa em deleite da qualidade dos acordes e da voz rouca.

The War on Drugs
Tímido e aconchegado 'feel good', aquele do 'Red Eyes', um pouco de Arcade Fire misturado com o estilo de Kurt Vile à Cobain, dá para abanar e sonhar um bocadinho.

Foster the People; The Libertines
Também deu para ouvir uns belos 'pumped up kick's e outros relances mas a experiência foi mais de hamburgueres, bifanas e gin com morangos frescos. Pete Doherty está branco e adoentado demais.

Madrugada Suja

Miguel Sousa Tavares, 2013, Clube do Autor

Uma simplicidade fácil de devorar em três dias. Desenha uma ligação entre um velho agarrado à sua solitária aldeia e o futuro homem mais poderoso de Portugal. Inteligente, perceptível  e reveladora a forma como Filipe, arquitecto paisagista, aprende o discreto método de corromper para reinar, para enriquecer num Portugal do passado recente. Agradáveis pedaçinhos do país guardados na aldeia e no restaurante à beira mar, que contrastam com a condenação aos subúrbios e aos resorts conspurcados.

Memorial do Convento

José Saramago, Editorial Caminho, 1984; 2004 34a edição

Alegoria do agora no passado. Tragédia de todos os que perseguem o vão sonho de voar. Tragédia mesmo a voar, porque Blimunda Sete-Luas e Baltasar Sete-Sóis, tendo voado um com o outro, são agrilhoados ao Convento de Mafra por uma sociedade 'superior' que vive à custa das massas condenadas ao sacrifício. São presos ao chão e eventualmente queimados na fogueira pelo preconceito e hipocrisia de uma infeliz e vazia elite.

27 Mas esta cidade, mais que todas, é uma boca que mastiga de sobejo para um lado e de escasso para o outro.

42 À porta duma taberna que ficava ao lado da casa dos diamantes, Baltazar comprou três sardinhas assadas, que, sobre a indispensável fatia de pão, soprando e mordiscando, comeu enquanto caminhava em direcção ao Terreiro do Paço. Entrou no açougue que dava para a praça, a regalar a vista sôfrega nas grandes peças de carne, nos bois e porcos abertos, quartos inteiros pendurados dos ganchos. A si próprio prometeu um festim de viandas quando lhe desse o dinheiro para isso.

141 Não choveu todo o caminho. Só o grande tecto escuro que se alongara para o sul e pairava sobre Lisboa, raso como as colinas no horizonte, parecia que se levantando a mão se tocaria na primeira flôr da água, às vezes é a natureza boa companhia, vai o homem, vai a mulher, as nuvens a dizerem umas às outras, A ver se eles chegam a casa, depois já poderemos chover. Entraram Baltasar e Blimunda na quinta, na abegoaria, e enfim começou a chuva a cair, e como havia algumas telhas partidas, a àgua escorria em fio por ali, discretamente, apenas murmurando, Cá estou, chegaram bem.

143 em menos de uma semana deixou a máquina de ser máquina ou seu projecto, quanto ali se mostrava poderia servir para mil diferentes coisas, não são muitas as matérias de que os homens se servem, tudo vai é da maneira de as compor, ordenar, juntar, veja-se a enxada, veja-se a plaina, um tanto de ferro, um tanto de madeira, e o que faz aquela, esta não faz

162 muito verdade é o que se diz, pequenas causas, grandes efeitos, por nascer uma criança em Lisboa levanta-se em Mafra um montanhão de pedra e vem de Londres contratado Domenico Scarlatti

171 Todos eles atiram os caroços para o chão, el-rei que aqui estivesse faria o mesmo, é por pequenas coisas assim que se vê serem os homens realmente iguais

230 Medita D. João V no que fará a tão grandes somas de dinheiro. De Portugal não se requeria mais que pedra, tijolo e lenha para queimar, e homens para a força bruta, ciência pouca.

231 Desde que na vila de Mafra, já lá vão oito anos, foi lançada a primeira pedra da Basílica, essa de Pêro Pinheiro graças a Deus, tudo quanto é Europa vira consoladamente a lembrança para nós, para o dinheiro que receberam adiantado (...)
Se a vaca que tão dócil se deixa mungir não puder ser nossa, ou enquanto nossa não puder vir a ser, ao menos deixá-la ficar com os portugueses, que em pouco tempo estarão a comprar-nos, fiado, um quartilho de leite para fazerem farófias e papos-de-anjo.

251 Se a vida não tivesse tão boas coisas como romer e descansar, não valia a pena construir conventos

261 Em cima deste valado, está o diabo assistindo, pasmando da sua própria inocência e misericórdia por nunca ter imaginado suplício assim para coroação dos castigos do seu inferno.

285 Está longe daqui o fundo dos nossos sacos, um no Brasil, outro na Índia, quando se esgotarem vamos sabê-lo com tão grande atraso que poderemos então dizer, afinal estávamos pobres e não sabíamos, Se vossa majestade me perdoa o atrevimento, eu ousaria dizer que estamos pobres e sabemos, Mas graças sejam dadas a Deus, o dinheiro não tem faltado, Pois não, e a minha experiência contabilística lembra-me todos os dias que o pior pobre é aquele a quem o dinheiro não faltam isso se passa em Portugal, que é um saco sem fundo, entra-lhe o dinheiro pela boca e sai-lhe pelo cu, com perdão de vossa majestade.



A rapariga que roubava livros

2013, Brian Percival, com Sophie Nélisse, Heike Makatsch, Geoffrey Rush

Não se desenvolve muito velozmente, a guerra é má e os livros lá a ajudam. No meio dos Nazis haviam almas boas que não seguiam a linha. O melhor é a personagem da mãe vil que não é vil de todo.

BES Run Challenge Lisboa



7 Junho 2014

O convite, a desilusão pela venda como pãezinhos quentes, a ponta de sorte, as inscrições. Visitas viajantes para correr, que prazer. A corrida foi uma luta. O medo da chuva passou ao terror do calor. Início divertido, piada na praça do município, e batalha por debaixo da ponte. Os 5 km não estavam no ponto de retorno, ainda falta metade. Linha ténue de sombra, é para ela que corremos, demasiado fina. Chegada pela ribeira das naus, em obras, linda já. Apoteose e dôr no Terreiro do Paço, e ainda temos de dar a volta ao Rossio. Manjericos, bananas, maçã seca de Viseu, encontro com amiga estafada.

Tempo de chip: 52.46 min
Classificação: 1390 de 2778

Rui: 1h 3 min
Pierre: 59.48 min
Sandra:1h 29 min