31/07/2009

O Grande Ditador


Charlie Chaplin, com Paulette Goddard - 1940

Intenso e revoltosamente divertido. Dificil de imaginar como foi filmado em segredo, não sei bem porque penso nisso, talvez só por algumas das suas cenas terem necessitado de grande esforço logístico. Crítica pura, simples, esforçada, óbvia e comovente no seu humor de um dos períodos mais negros da nossa história mais ou menos recente. Fica o curioso discurso final, o barbear ao som da rádio e a famosa cena da dança do ditador com o globo, justamente famosa na sua simplicidade - a bola fascinante mas frágil e controlável que o nosso mundo ainda vai continuando a ser.

22/07/2009

A barriga de um arquitecto

Peter Greenaway - 1987

Adoro subtil e apaixonadamente como Roma é retratada e em particular a cena inicial do Panteao, em que se janta, fala alto, ri-se e se acaba em grupo por bater palmas àquele edíficio que na verdade tanto o merece. Gosto também como os sinais de hubris iniciais se cumprem e o começo do filme se repete disforme e alterado em cenas de dejá vu. O regresso ao restaurante em frente ao Panteao é feito no desespero e na angústia da morte e do falhanço. Ao Panteao já nao se bate palmas mas olha-se em desespero e resignaçao da invariável miséria da vida. Grunhe-se em falhanço. Foi bom partilhar dos medos, loucuras e fobias do teimoso arquitecto Stourley Kracklite. Aprendemos a apreciar a sua solidao e pequenas tarefas e projectos futeis que cumpre assim como o sacrificio final que ele celebra de forma monumental - tal qual a arquitectura que ele mais aprecia.

16/07/2009

Almoço de 15 de Agosto


Pranzo di Ferragosto
Itália, 2008
Gianni Di Gregorio

Absolutamente delicioso. Díficil de imaginar a dificuldade em tornar tantas coisas tão simples em tantas coisas tão especiais, bonitas e fáceis de digerir e de gostar. Adoramos este filme da mesma forma que respiramos, andamos ou sonhamos - sem saber como, sem saber exactamente porquê. Muito bom, muito bonito, muitíssimo especial.

Alphaville



Jean Luc-Godard
França, 1965


Alphaville é uma caricatura daquilo que o futuro ameaçava trazer naquele período de Guerra Fria dos anos 60. Lemmy Caution, agente secreto, viaja até uma cidade futura que nos perturba tanto quanto nos intriga. Passamos de desorientados a fazer pequenas perguntas de auto-prospecção. Imaginando uma possível vida em Alphaville desproporcionada de amor, espontaneidade, da nossa tão importante dimensão irracional. O ditador Van Braun é alguém que nos ameaça mas também nos desafia.

12/07/2009

Solo

Coreografia e interpretação PHILIPPE DECOUFLÉ
Música Joachim Latarjet
Vídeo Olivier Simola
Teatro Viriato, 11 Julho

Tão bom, tão irrequieto e hipnotizador. Leve, com pouca gente, tendencialmente caro. Terapeuticamente surpreendente, trabalhado e agradável. Muito...extremamente díficil não gostar, complicado não nos sintonizarmos com Philippe Decouflé. Absorvê-lo.

"Paradoxo de uma época: motor das imagens que o rodeiam, o homem acaba por se perder nos respectivos reflexos. O real emaranha-se na artificiosa rede de virtualidade e o homem acaba por ser comido vivo. Suave alienação, prodigiosa ilusão."